Jesus - a Simples Verdade

terça-feira, 28 de junho de 2011

A conversão (fé e arrependimento)





Que é o verdadeiro arrependimento?
Que é fé salvífica?
Podem as pessoas aceitar Jesus como Salvador, mas não como Senhor?

1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
Os dois capítulos anteriores explicaram como o próprio Deus (por meio da pregação humana da Palavra) promulga o chamado do evangelho a nós e, pela obra do Espírito Santo, nos regenera, comunicando-nos nova vida espiritual interior. Neste capítulo vamos examinar nossa resposta ao chamado do evangelho. Podemos definir a conversão da seguinte maneira: A conversão é a nossa resposta deliberada ao chamado do evangelho, pela qual sinceramente nos arrependemos dos pecados e colocamos a nossa confiança em Cristo para sermos salvos.

A palavra conversão significa “voltar-se” — aqui ela significa a volta espiritual, a volta do pecado para Cristo. Esse retorno do pecado é chamado arrependimento, e o voltar-se para Cristo é chamado fé. Podemos olhar para cada um desses elementos da conversão e, em certo sentido, não importa qual deles vamos discutir primeiro, porque nenhum pode ocorrer sem o outro, e eles devem ocorrer juntos quando a verdadeira conversão acontece. Para os propósitos deste capítulo, examinaremos a fé salvadora primeiro e a seguir o arrependimento.

A. A verdadeira fé salvadora inclui conhecimento, aprovação e confiança pessoal.

1. Apenas o conhecimento não é suficiente.

A fé salvadora pessoal, da maneira como a Escritura a entende, envolve mais que mero conhecimento. É necessário que tenhamos algum conhecimento de quem Cristo é e o que ele fez, pois “como crerão naquele de quem não ouviram falar?” (Rm 10.14). Porém o conhecimento a respeito dos fatos da vida, morte e ressurreição de Jesus por nós não é suficiente, pois as pessoas podem conhecer fatos, mas podem se rebelar contra eles ou não gostar deles. Por exemplo, Paulo nos diz que muitas pessoas conheciam as leis de Deus, mas não as apreciavam: “Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que praticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam” (Rm 1.32). Mesmo os demônios sabem quem Deus é e conhecem os fatos a respeito da vida de Jesus e de sua obra salvadora, pois Tiago diz: “Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem—e tremem!” (Tg 2.19).
Mas esse conhecimento certamente não significa que os demônios são salvos.

2. Conhecimento e aprovação não são suficientes.

Além disso, o mero conhecimento dos fatos e a aprovação deles ou a concordância de que eles são verdadeiros não é suficiente. Nicodemos sabia que Jesus tinha vindo de Deus, porque ele disse: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele” (Jo 3.2). Nicodemos avaliara os fatos da situação, incluindo os ensinos de Jesus e os seus milagres notáveis, e havia tirado a conclusão correta daqueles fatos: Jesus era o mestre vindo da parte de Deus. Mas isso somente não significava que Nicodemos tinha fé salvadora, pois ele tinha ainda de colocar sua confiança em Cristo para ser salvo; ele ainda precisava “crer nele” O rei Agripa proporciona outro exemplo de conhecimento e aprovação sem fé salvadora. Paulo percebeu que o rei Agripa conhecia e aparentemente via com aprovação as Escrituras dos judeus (o que hoje chamados AT). Quando Paulo estava no tribunal perante Agripa, ele disse: “Rei Agripa, crês nos profetas? Eu sei que sim” (At 26.27). Todavia, Agripa não tinha a fé salvadora, pois ele disse a Paulo: “Você acha que em tão pouco tempo pode convencer-me a tornar-me cristão?” (At 26.28).

B. Fé e arrependimento devem vir juntos

Podemos definir o arrependimento da seguinte maneira: Arrependimento é a tristeza de coração pelo pecado, a renúncia ao pecado e o compromisso sincero de abandoná-lo e de andar em obediência a Cristo.

Essa definição indica que o arrependimento é algo que pode ocorrer em determinado ponto do tempo e não é equivalente à demonstração de mudança no padrão de vida de uma pessoa. Semelhantemente à fé, o arrependimento é o entendimento intelectual (de que o pecado está errado), a aprovação emocional dos ensinos da Escritura com respeito ao pecado (tristeza pelo pecado e o ódio dele) e a decisão pessoal de abandoná-lo (a renúncia ao pecado e decisão voluntária de deixá-lo e, em vez disso, de levar uma vida de obediência a Cristo). Não podemos dizer que alguém já vive realmente esse tipo de vida mudada antes de arrepender-se genuinamente, nem podemos dizer que o arrependimento se torna uma espécie de obediência que prestamos para merecer a própria salvação. Obviamente, o genuíno arrependimento resultará na vida mudada. De fato, a pessoa verdadeiramente arrependida começará a viver uma vida transformada, e podemos chamar essa vida transformada fruto do arrependimento. Mas nunca devemos exigir que haja um período de tempo em que uma pessoa realmente viva uma vida mudada antes que possamos lhe dar a certeza do perdão. O arrependimento é algo que ocorre no coração e envolve a totalidade da pessoa na decisão de abandonar o pecado.

E importante perceber que a mera tristeza que advém das ações de uma pessoa, ou mesmo o remorso profundo por causa dessas ações, não constitui o genuíno arrependimento a menos que ele seja acompanhado da decisão sincera de abandonar o pecado que está sendo cometido contra Deus. O arrependimento genuíno envolve a profunda convicção de que a pior coisa a respeito de pecado é que ele ofende o Deus santo. Paulo pregava a respeito da conversão “a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus” (At 20.21). Ele diz aos coríntios: “Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte” (2Co 7.9,10). Uma espécie de tristeza mundana pode envolver pesar da pessoa por suas ações e provavelmente também o temor de punição, mas não é a renúncia genuína do pecado ou o compromisso de abandoná-lo. Hebreus 12.17 nos diz que Esaú chorou por causa das conseqüências das suas ações, mas não se arrependeu verdadeiramente. Além disso, como 2Coríntios 7.9,10 indica, mesmo a tristeza verdadeira e piedosa é apenas um fator que conduz ao arrependimento genuíno, mas tal tristeza não é em si mesma a decisão sincera do coração na presença de Deus que torna autêntico o arrependimento.

A Escritura coloca o arrependimento e a fé juntos, como aspectos diferentes do mesmo ato de ir a Cristo para ser salvo. O que acontece não é que a pessoa primeiro se volta do pecado e em seguida confia em Cristo, ou primeiro confia em Cristo e a seguir se volta do pecado, mas que ambas as coisas ocorrem ao mesmo tempo. Quando nos voltamos para Cristo a fim de receber salvação de nossos pecados, estamos simultaneamente nos apartando dos pecados dos quais pedimos a Deus que nos salve. Se isso não fosse verdade, o abandono do pecado para voltar-nos para Cristo para sermos salvos dificilmente poderia ser a conversão genuína a ele ou confiança nele.

O fato de que o arrependimento e a fé são simplesmente dois lados diferentes da mesma moeda, ou dois aspectos diferentes do mesmo evento da conversão, pode ser visto na figura abaixo:

Nesse diagrama, a pessoa que se volta genuinamente para Cristo para a salvação deve ao mesmo tempo ser liberta do pecado ao qual está presa a fim de voltar-se para Cristo.Assim, nem o arrependimento nem a fé vêm primeiro; eles devem vir juntos. John Murray fala de ”fé penitente” e de “arrependimento confiante”.
Não-cristão ARREPENDIMENTO + FE = CONVERSÃO

Conversão é a ação simples de voltar-se do pecado em arrependimento e voltar-se para Cristo em fé.
Portanto, é claramente contrário à evidência do NT falar a respeito da possibilidade de haver verdadeira fé salvadora sem haver arrependimento verdadeiro do pecado. É também contrário ao NT falar a respeito da possibilidade de alguém aceitar Cristo “como Salvador” mas não “como Senhor”, se isso significa simplesmente depender dele para a salvação, mas sem o compromisso de abandonar o pecado e ser obediente a Cristo daquele ponto em diante.

Quando Jesus convida pecadores: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso”, imediatamente acrescenta: “Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim” (Mt 11.28,29). Ira ele inclui tomar o fardo sobre nós, estando sujeitos à sua direção e orientação, aprendendo dele e sendo obedientes a ele. Se não temos o desejo de tal comprometimento, então não colocamos verdadeiramente nossa confiança nele.
Quando a Escritura fala em confiar em Deus ou em Cristo, ela muitas vezes conecta tal confiança ao arrependimento genuíno. Por exemplo, Isaías dá um testemunho eloqüente que é típico da mensagem de muitos profetas do AT: Busquem o SENHOR enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está perto. Que o ímpio abandone o seu caminho, e o homem mau, os seus pensamentos. Volte-se ele para o SENHOR, que terá misericórdia dele; volte-se para o nosso Deus, pois ele dá de bom grado o seu perdão (Is 55.6,7).

Aqui ambos os elementos, o arrependimento do pecado e a vinda a Deus em busca do perdão, são mencionados. No NT, Paulo resume o seu ministério do evangelho como a tarefa de testificar, “tanto a judeus como a gregos, que eles precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus” (At 20.21).O autor de Hebreus inclui como os dois primeiros elementos em uma lista de doutrinas elementares o “arrependimento de atos que conduzem à morte” e a “fé em Deus” (Hb 6.1). Naturalmente, às vezes a fé é mencionada isoladamente como necessária para vir a Cristo para ser salvo (v. Jo 3.16; At 16.31; Rm 10.9; Ef 2.8,9; etc.). Essas são passagens familiares, e nós as enfatizamos muitas vezes quando explicamos o evangelho a outras pessoas. Mas o que não percebemos com freqüência é que há muitas outras passagens onde somente o arrependimento é mencionado, pois está simplesmente subentendido que o verdadeiro arrependimento também envolverá a fé em Cristo para o perdão dos pecados. Os autores do NT entenderam tão bem que o arrependimento genuíno e a fé genuína tinham de estar juntos que muitas vezes mencionaram somente o arrependimento, entendendo que a fé já estava incluída, porque voltar-se dos pecados de modo genuíno é impossível independentemente do genuíno voltar-se para Deus. Portanto, exatamente antes de Jesus retornar ao céu, ele disse aos discípulos: “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.46,47).A fé salvadora está implícita na frase “perdão de pecados”, mas não está explicitamente mencionada.

A pregação registrada no livro de Atos mostra o mesmo padrão. Após o sermão de Pedro no Pentecoste, a multidão perguntou: “‘Irmãos, que faremos?’ Pedro respondeu: ‘Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados” (At 2.37,38). Em seu segundo sermão, Pedro falou aos ouvintes de modo semelhante, dizendo: “Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os pecados sejam cancelados” (At 3.19). Mais tarde, quando os apóstolos estavam no tribunal diante do Sinédrio, Pedro falou de Cristo, dizendo: “Deus o exaltou, colocando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados” (At 5.31). Quando Paulo estava pregando no Areópago de Atenas para a assembléia de filósofos gregos, disse: “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam” (At 17.30). Ele também diz em suas cartas que “a bondade de Deus [...] leva ao arrependimento” (Rm 2.4), e fala do “arrependimento que leva à salvação” (2Co 7.10).

Quando percebemos que a fé salvadora genuína deve ser acompanhada pelo genuíno arrependimento do pecado, isso nos ajuda a entender por que algumas pregações do evangelho apresentam resultados inadequados hoje. Se não há menção da necessidade de arrependimento, às vezes a mensagem do evangelho se torna somente “crê em Jesus Cristo e serás salvo”, sem qualquer menção ao arrependimento. Mas essa versão enfraquecida do evangelho não exige o compromisso do coração para com Cristo — o compromisso com a pessoa de Cristo. Se o evangelho é genuíno, deve incluir o compromisso de abandonar o pecado. A pregação sobre a necessidade de fé sem o arrependimento é a pregação do evangelho pela metade. Resultará em muitas pessoas sendo enganadas, pensando que ouviram o evangelho cristão e obedeceram a ele, mas nada aconteceu. Podem até dizer algo do tipo: “Aceitei Cristo como Salvadoras várias vezes e isso nunca funcionou”. Todavia, nunca realmente receberam Cristo como seu Salvador, porque ele vem a nós em sua majestade e convida-nos a recebê-lo como ele é — o único que verdadeiramente merece e exige ser o Senhor absoluto de nossa vida.
Por fim, o que diremos a respeito da prática comum de pedir às pessoas que orem a fim de receber a Cristo como seu Salvador pessoal e Senhor? Desde que a fé pessoal em Cristo deve envolver uma decisão da vontade, é com freqüência muito útil expressar essa decisão em palavras faladas, e isso poderia muito naturalmente tomar a forma de uma oração a Cristo na qual lhe dizemos de nossa tristeza pelos pecados, de nosso compromisso de abandoná-los e de nossa decisão de realmente colocar nossa confiança nele. Tal oração em si mesma não nos salva, mas a atitude do coração que ela representa se constitui na verdadeira conversão, e a decisão de expressar essa oração pode muitas vezes ser o ponto em que a pessoa verdadeiramente vem à fé em Cristo.

C. Tanto a fé como o arrependimento continuam pela vida toda

Embora tenhamos considerado a fé e o arrependimento iniciais os dois aspectos da conversão no começo da vida cristã, é importante perceber que a fé e o arrependimento não estão confinados à etapa inicial de nossa vida cristã. Antes tratam-se de atitudes do coração que permanecem ao longo de toda a nossa vida como cristãos. Jesus diz aos seus discípulos para orar diariamente:
“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12), oração que, se autêntica, certamente envolverá tristeza diária pelo pecado e arrependimento genuíno. E o Cristo ressuscitado diz à igreja de Laodicéia: “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se” (Ap 3.19; cf.2Co 7.10).

Com relação à fé, Paulo nos diz: “Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor” (lCo 13.13). Ele certamente quer dizer que esses três permanecem em todo o transcorrer de nossa vida, mas provavelmente também quer dizer que eles permanecem por toda a eternidade: se fé é a confiança em Deus para suprir nossas necessidades, então essa atitude nunca cessará, nem mesmo na era por vir. Mas, de qualquer forma, o ponto claramente enfatizado é o de que a fé continua no decorrer de toda esta vida. Paulo também diz: “A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20).

Portanto, embora seja verdadeiro que a fé salvadora inicial e o arrependimento inicial ocorrem somente uma vez na vida, e quando ocorrem constituem a verdadeira conversão, as atitudes do coração de arrependimento e fé somente começam na conversão. Essas mesmas atitudes devem continuar no decorrer de toda nossa vida como cristãos. A cada dia deveria haver no coração o sentimento de arrependimento pelos pecados que cometemos e fé em Cristo para suprir nossas necessidades e capacitar-nos a viver a vida cristã.

Autor: Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova

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